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Brain rot: o impacto escondido dos conteúdos rápidos na sua saúde mental

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O que é brain rot?

"Brain rot" é uma expressão em inglês que significa literalmente "cérebro1 podre", embora uma tradução mais adequada ao nosso contexto brasileiro seja algo próximo de "emburrecimento". Na cultura da internet, o termo descreve o impacto negativo causado pelo consumo excessivo de conteúdos digitais superficiais, como vídeos curtos, memes ou postagens nas redes sociais que têm pouco valor intelectual ou estimulante.

Segundo o Dicionário Oxford, brain rot é a "suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa pelo consumo excessivo de material – especialmente online – trivial ou pouco desafiador".

O termo foi usado pela primeira vez em 1894 pelo escritor Henry David Thoreau, ao criticar a tendência da sociedade em desvalorizar ideias complexas em favor de ideias mais simples. Atualmente, no contexto digital, refere-se ao hábito de passar horas navegando em aplicativos ou assistindo vídeos sem conteúdo relevante, o que pode deixar a mente "embotada".

Um pouco da história do brain rot

O termo brain rot surgiu há mais de um século, num contexto bem diferente do digital atual, em um livro do escritor Henry David Thoreau, como uma crítica à superficialidade intelectual e ao abandono das ideias profundas pela sociedade. Thoreau comparou esse fenômeno à "podridão das batatas" – uma doença devastadora que assolou plantações na Irlanda por volta de 1850, tornando as batatas impróprias para o consumo –, sugerindo que a superficialidade cultural funcionava como uma espécie de "praga" mental.

Apesar dessa origem histórica, o termo permaneceu relativamente obscuro até ser resgatado na era digital. Desde os anos 2000, o conceito ganhou novos significados, descrevendo o impacto negativo causado pela constante exposição a estímulos digitais triviais. Entre 2023 e 2024, o uso do termo aumentou em 230%, refletindo as preocupações crescentes sobre a hiperconexão e a exposição a conteúdos superficiais nas redes sociais. Em 2024, o Dicionário Oxford chegou a eleger "brain rot" como a palavra do ano, destacando como esse fenômeno tem afetado a saúde2 mental e a cognição3 das pessoas.

Hoje, o termo é amplamente reconhecido como símbolo dos desafios impostos pela vida digital moderna. Sua popularização foi impulsionada por fatores culturais e tecnológicos, sobretudo devido ao aumento do consumo de conteúdos rápidos e superficiais, como notícias sensacionalistas, que geram exaustão mental e cognitiva4.

Atualmente, a preocupação com os efeitos negativos dessa exposição digital excessiva tem crescido. O conceito de brain rot ajudou inclusive a reconhecer um distúrbio descrito por pesquisadores do Boston Children’s Hospital como "Uso Problemático de Mídia Interativa", associado ao que hoje chamamos de nomofobia (medo patológico de ficar sem acesso ao celular ou outros dispositivos eletrônicos).

Veja também sobre "Como exercitar o cérebro1" e "Névoa cerebral".

Quais são as causas do brain rot?

O brain rot está especialmente associado às gerações Z e Alpha. A geração Z, nascida entre 1995 e 2010, aproximadamente, cresceu em um ambiente altamente digital, em contato constante com internet, redes sociais e smartphones desde a infância. São pessoas que consomem e produzem conteúdos rapidamente, têm preferência por vídeos curtos e se interessam por temas como sustentabilidade, inclusão e diversidade. Muitos optam por carreiras alternativas ao modelo tradicional de trabalho.

Já a geração Alpha, nascida entre 2010 e 2025, aproximadamente, é a primeira totalmente nativa digital. Cresceram com smartphones, inteligência artificial e assistentes virtuais como parte natural do cotidiano. Muitos aprendem por meio de plataformas online, vídeos interativos e realidade aumentada, preferindo serviços de streaming aos canais de televisão tradicionais. Desde cedo são expostos a debates sobre mudanças climáticas, diversidade e inclusão, além de conviverem naturalmente com inteligência artificial, robótica e gamificação (uso de elementos de jogos em contextos cotidianos para motivação e engajamento).

Quais são os efeitos do brain rot sobre a mente das pessoas?

O brain rot decorre do consumo excessivo de conteúdos superficiais, repetitivos ou de baixa qualidade. Esse hábito pode trazer consequências significativas, como dificuldade de concentração em tarefas longas ou complexas, uma vez que o cérebro1 é treinado para buscar gratificação instantânea. Estudos sugerem que o consumo constante de estímulos rápidos e fragmentados prejudica a capacidade de manter atenção.

Além disso, a exposição contínua a estímulos triviais pode levar a uma sensação de "névoa mental", caracterizada por dificuldade em processar informações ou tomar decisões claras. O brain rot pode também causar uma sensação de vazio ou frustração, especialmente quando a pessoa percebe estar desperdiçando tempo sem conseguir interromper esse ciclo. Esse comportamento é potencializado pela dopamina5 liberada ao consumir conteúdos rápidos, criando um ciclo de recompensa difícil de romper.

Em longo prazo, a exposição constante a ideias prontas e superficiais pode reduzir a capacidade de reflexão profunda e a criatividade, efeitos já identificados por psicólogos em contextos de dependência digital. Embora frequentemente associado às redes sociais, paradoxalmente, o brain rot pode gerar uma sensação de desconexão, pois interações superficiais não substituem relações pessoais significativas. Um estudo de 2021 publicado no Journal of Behavioral Addictions mostrou que o uso prolongado de redes sociais está relacionado a sintomas6 de depressão e dificuldade de regulação emocional em jovens adultos.

O tempo excessivo dedicado a conteúdos superficiais pode impedir o indivíduo de buscar informações mais significativas, resultando num progressivo "emburrecimento" individual e coletivo.

Leia sobre "Confusão mental" e "Menos telas, mais saúde2".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Newport Institute e do Merrian Webster Dictionary.

ABCMED, 2025. Brain rot: o impacto escondido dos conteúdos rápidos na sua saúde mental. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1483280/brain-rot-o-impacto-escondido-dos-conteudos-rapidos-na-sua-saude-mental.htm>. Acesso em: 8 abr. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
4 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
5 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
6 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.

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